Foram necessários somente dois álbuns lançados no começo dos anos 70 para colocar essa banda eternamente no mapa do rock’n’roll, mais especificamente no do glam rock. Uma carreira rápida e magnífica, que fascina aqueles que cavam mais o fundo para descobrir as pérolas. Silverhead definitivamente é uma delas. A carreira durou apenas três anos, o álbum homônimo de 1972 e “16 and Savaged”, de 1973, permanecem como pontos altos da época, apesar de pouco lembrados hoje em dia devido ao fato da concorrência ser barra pesada. New York Dolls, T-Rex, Slade ou mesmo David Bowie nessa época estavam lançando clássicos irretocáveis e que permanecem no imaginário popular até hoje, ganhando diversas reedições. Silverhead serve para presentear o fã de rock mais dedicado, que não fica satisfeito somente com os grandes nomes e começa a se interessar e pesquisar pelas bandas do segundo ou terceiro escalão. Esse tipo de fã sabe que essas bandas são tão boas quanto as estrelas, só não fizeram sucesso por causa de inúmeros fatores. A curta carreira do Silverhead certamente não ajudou na decolagem. O fato deles serem loucos e selvagens também não. A música do Silverhead é perceptivelmente mais suja e pesada que a de seus pares glam, os aproximando do AC/DC em início de carreira ou mesmo Alice Cooper em seus momentos mais descontrolados.
Os discos do Silverhead foram lançados pela Purple Records, a gravadora criada pelo Deep Purple nos anos 70. Outro indicativo de que o negócio aqui é mais pesado, porém isso não impede de encontrarmos momentos mais calmos e sofisticados nos discos, nos trazendo a mente nomes como Roxy Music e The Faces. O primeiro álbum, intitulado “Silverhead”, de 1972, tem 10 faixas que, no encarte da nova reedição, é descrito como o ponto perdido entre “Exile On Main Street” e “Appetite For Destruction” dos Guns’n’Roses. Os singles são “Ace Supreme” e “Rolling With My Baby”, que foram lançadas em compactos na época e na reedição do CD aparecem com seus respectivos b-sides como faixas bônus e reprodução das capas e selos no encarte. Também como bônus, temos três canções ao vivo. A reedição, lançada originalmente na Inglaterra pela renomada gravadora Cherry Red, é caprichada, com textos e várias fotos, e a edição brasileira, que saiu pela Urubuz, trás ainda um pôster e a sobrecapa.
O segundo álbum, “16 And Savaged”, de 1973, tem 9 faixas e é tão bom quanto o primeiro, ainda mais pesado e sujo. É rock’n’roll festeiro, energético e porra-louca. É botar o disco para rodar e receber aquela boa dose de ânimo sempre bem vinda no dia a dia de qualquer um. A reedição em CD tem 10 faixas bônus, entre elas duas faixas que foram gravadas para o terceiro, e nunca lançado, álbum, e duas faixas do single 7” solo do líder Michael Des Barres, lançado pouco tempo depois. A banda acabou por causa dos excessos da época, muitas drogas, muito sexo, e também pela falta de interesse da gravadora, que sempre os mantiveram em segundo plano, priorizando obviamente o Deep Purple. Michael Des Barres ainda tocou com as bandas Detective e Power Station, mas por fim apostou na carreira de ator e se casou com a groupie mais famosa do mundo, Pamela Miller, que tem o excelente livro Confissões de uma Groupie (no original I'm with the Band, de 1987) lançado no Brasil, hoje em dia uma raridade. No livro ela já assina como Pamela Des Barres. O baxista Nigel Harrison entrou no Blondie logo após o fim do Silverhead. O guitarrista Robbie Blunt (que substitiu o guitarrista original Stevie Forest nesse segundo álbum) foi tocar com Robert Plant. Ficam eternizados esses dois excelentes álbuns, que agora ganham essas reedições definitivas em CD, felizmente lançadas no Brasil.
Gilberto Custódio Junior