Apesar da capa feiosa, o livro tem esse título esquisito e
genial. Em todo caso, é mais um volume da Coleção Mondo Massari, então
obrigatoriamente tem que ser devorado por qualquer amante da boa música e
cultura em geral. Editado pela Edições Ideal, os livros selecionados pelo Fábio
Massari para essa coleção são um melhor que o outro. Temos “Nós Somos a Tempestade”,
sobre alt-metal, a HQ “Malcolm”, que é uma entrevista do próprio com o Malcolm
McLaren em quadrinhos, além do livro “Mondo Massari”, que não faz parte do
selo, mas é como se fosse o paizão de todos os outros. A Edições Ideal também
já lançou dois romances do Martin Millar, escritor inglês apadrinhado pelo
Massari (ele já escreveu sobre Martin Millar no livro “Emissões Noturnas -
Cadernos Radiofônicos de Fm”, lançado em 2003).
O livro mais recente “Alguém Come Centopeias Gigantes?” é
uma seleção de entrevistas do fanzine norte-americano Search & Destroy, que
durou 11 edições durante 1977 e 1979, ápice do punk. Editado por V. Vale em São
Francisco, o fanzine foi o embrião da editora criada pelo mesmo nos anos 80,
chamada de Re/Search Publications e que dura até hoje. Entrevistas publicadas
por fanzines costumam ser diferentes daquelas publicadas por uma grande
revista. Elas são mais intimistas, informativas e inteligentes. O zineiro pressupõe
que a pessoa que está lendo a sua publicação já é alguém acima da média, então
dá-lhe referências obscuras, humor negro e experimentos diversos. As
entrevistas de V. Vale são assim.
O livro é lindamente diagramado de forma a lembrar um pouco
a arte zineira em preto & branco. Temos bastante fotos, trechos destacados,
ilustrações e mais regalias que deixam o livro muito bonito e empolgante. A
tradução ficou a cargo do Alexandre Matias do Trabalho Sujo. No meio, uma surpresa. Um trecho do livro “Música
Incrivelmente Estranha”, lançado pela Re/Search em 1992. É um livro sobre
música exótica cujo grande destaque é uma extensa entrevista com The Cramps,
aonde eles conversam com V. Vale sobre discos e música em geral. Essa é a
cereja do bolo de “Alguém Come Centopeias Gigantes?”, aonde temos essa
entrevista publicada na íntegra. É irresistível publicar alguns trechos:
Poison Ivy: “Quando tovamos “Surfin’ Bird”, essa música tem
um efeito incrível sobre as pessoas. Mesmo com um público que não reage, quando
o Lux começa aquele “Papa Ooo-Mau-Mau” maluco, alguns da plateia começam a cantar,
outros murmuram em silêncio e eles começam a parecer como se estivesse em
transe. Depois todos eles se soltam, e parece um ninho de cobras – tipo se
contorcendo. Isso acontece em todo lugar, em qualquer país – aconteceu no
México quando tocamos semana passada. O idioma limita suas experiências até um
tanto – talvez algo se liberte ao deixar sair estes sons sem sentido. Ou talvez
seja um determinado som ou mantra que faz isso. Eu li na Enciclopédia das
Mulheres que a palavra “mama” é entendida em qualquer idioma, em qualquer
cultura, em qualquer lugar – ela tem o mesmo significado e recebe a mesma
resposta.
V. Vale: Onde vocês compram seus discos hoje em dia? Em
catálogos?
Poison Ivy: Às vezes, mas normalmente na feira de troca de
discos em Pasadena.
Lux Interior: É a melhor do país; as pessoas vêm da Geórgia
e montam barraquinhas lá. Eu sempre vou direto para os colecionadores de
Beatles e procuro a caixa de rockabilly deles...
Poison Ivy: O lixo deles.
Lux Interior: E tem colecionadores de rockabilly vendendo
discos dos Beatles com a capa dos açougueiros e eles não sabem disso. Você tem
que ir na pessoa certa; ver com o que ele está animado e procurar outra coisa.
No mercado de pulgas de Pasadena no ano passado eu estava olhando para um toca-discos
pequeno e o cara diz: “Eu tenho alguns discos aqui que você pode usar para
testar”. Eu olho para os disco e falo [com uma casualidade forçada]: “Quanto
você quer por esses?” e ele diz “Ah, eu faço esses por cinco centavos cada”.
Nós acabamos fazendo um cover de uma das músicas...
Você por adquirir o livro “Alguém Come Centopeias Gigantes?” na Locomotiva Discos
clicando aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário